#46_ MATEMÁTICA E SEUS PROBLEMAS.
E o quão longe é possível chegar sem saber fazer conta de divisão.
Começo essa crônica com uma constatação que deve supreender um total de zero leitores - ou, pelo menos, zero dentre os que já me leem há algum tempo: eu sou de humanas. Mas, mais do que isso: eu definitivamente e inequivocamente não sou das exatas.
Me lembro de quando comecei a ter idade para ir até a padaria sozinha, feliz da vida com a responsabilidade de comprar os pãezinhos pra levar pra casa. Tudo era ótimo até a hora de chegar no caixa, onde a funcionária dizia “seu total é R$X mas se você me der R$Y eu te devolvo R$Z e troco fica redondo” e eu, em pânico por não entender como ela tinha feito aquelas contas de cabeça - e, muito menos, se elas estavam corretas - apenas me resignava a mostrar o dinheiro que tinha levado e ela mesma pinçava o que precisava de dentro das mãozinhas suadas de quem só queria meia dúzia de pães franceses e não uma chamada oral express de matemática.
Já mais velha, me lembro como nos primeiros semestres da faculdade (eu estudei Relações Internacionais numa escola de Marketing, sabe), eu suava frio ao entrar no laboratório de Cálculo e de rezava um Pai Nosso toda vez que tinha que calcular uma taxa de depreciação na aula de Contabilidade. #Sobrevivente
Toda essa introdução para dizer que pra mim, matemática é algo tóxico. Começando pelo simples fato de suas questões serem chamadas de PROBLEMAS. Isso por si só já deveria ser um sinal de alerta, mas enfim.
Usei exemplos de adolescência e início da vida adulta pra tentar explicar minha inabilidade nos números, mas até hoje eu sofro. Trabalhando no marketing de uma multinacional, todo trimestre tenho relatórios pra entregar pra matriz, com análises de resultados dos investimentos das nossas ações, e é aí que entra uma nova camada de toxicidade, conhecida por Microsoft Excel.
Já xinguei tanto o Excel que ele deveria entrar com uma medida protetiva contra mim. Não sei quantas vezes já CHOREI quando os PROC-Vs não funcionavam nem à base de ameaça, e uma vez fiquei por isso aqui (bem pouco) de arremessar meu laptop da janela do 8º andar do prédio quando os filtros de uma tabela dinâmica pareciam estar tramando para me levar à loucura.
Inclusive, logo antes de começar a redigir esse texto, estava trabalhando de casa e meu marido, vendo que eu estava de cara feia, comentou: “tá no excel, né?!”
- Eu estava.
Mas, inaptidões à parte, eu sou a prova viva do quão longe é possível chegar sem saber as matemáticas. Olha eu aqui linda & bela vivendo uma experiência no exterior, fazendo carreira no marketing, sendo valorizada pelo meu dom criativo e reconhecida pelo meu talento com as palavras… e tudo isso sem saber fazer conta de divisão. Não sou boa de cálculo, mas acho que saí no lucro, né?!
Tudo ia muito bem até que eu decidi correr minha primeira meia maratona. Pra me preparar pra prova, estou seguindo um plano de 14 semanas da Nike que envolve diferentes modalidades de treinos: tem os curtinhos tranquilos, os longos do final de semana… e os treinos de velocidade: os tiros e os progressivos - e é aí que está o problema.
Os treinos progressivos são assim: depois de correr uma distância X em Y minutos, você precisa completar a mesma distância, só que em um minuto a menos. Então imagina só: lá estou eu no parque dando o meu melhor, de olho no relógio pra não perder o ritmo, desviando das outras pessoas na pista, policiando minha postura e respiração, tentando não engasgar com o gelzinho de carboidrato e por cima de tudo isso ainda tenho que fazer mentalmente as contas da velocidade média que preciso correr pelos próximos minutos para conseguir completar a mesma distância percorrida na volta anterior?!?!
O caso dos tiros também é desafiador. Durante essa modalidade de treino, todo o meu foco está em não cair morta da esteira durante os intervalos de corrida ultra-intensa e depois tentar reviver retomar o fôlego durante os curtinhos períodos de recuperação. Então lá pro terceiro ou quarto tiro, pingando suor e repensando as escolhas que fiz pra minha vida, eu perco totalmente as contas de quantos tiros já foram, quantos faltam, confundo as velocidades, repito uns intervalos, esqueço outros…
Então pra tentar driblar tudo isso, eu comecei a estudar os meus treinos. Antes de ir pra academia, sento e analiso os minutos, velocidade e ritmo que devo completar em cada etapa da corrida do dia, anoto tudo num post-it e o levo pra colocar na esteira como se fosse cola pra uma prova. E assim como nos testes de física da escola, eu apenas chego com a certeza de que nada sei, entrego tudo o que posso e torço pelo melhor.
E foi assim que eu percebi que, sem querer, voltei a fazer lição de casa de matemática.
A vida, sabe, ela não é justa.
A única coisa que eu queria era cruzar a linha de chegada no dia da prova, mas como (quase) tudo na vida adulta, a gente não chega lá sem resolver uns PROBLEMAS pelo caminho.
Haha adorei… sofro do mesmo problema (ops)! Cheguei aos 40 anos gerindo uma casa, uma profissão, publicando crônicas… mas não me peça pra fazer uma conta de divisão rsrs. Pior que minha filha é igualzinha, e quando ela chega com o dever de matemática, eu já aviso “nem vem que eu não sei, fala com seu pai”. Até hoje eu me lembro que minha maior felicidade foi entrar na faculdade de jornalismo e não precisar estudar matemática jamais. Dia desses vou escrever sobre isso também. Valeu pela partilha!
Matemática sempre foi um monstro na minha vida. Eu sou da arte. Mas aí quando resolvi entrar no curso de licenciatura em Educação Artística (era esse o nome do curso em 1998) me deparei com a disciplina de Desenho Geométrico. Me lembro até hoje o terror de traçar ângulos que NUNCA SAIAM PERFEITOS! Que raiva ver os colegas driblando a dificuldade e enfim se saindo bem nos danados ângulos perfeitos que, para mim, não serviriam pra absolutamente nada. Mas acho que esses traumas já superei. Mas como você citou, os PROBLEMAS estão sempre esbarrando suas garras afiadas em nosso dia a dia. E cá estou eu ajudando (ou atrapalhando) meu filho de 9 anos nas temíveis lições de casa de que? De MATEMÁTICA!
Obrigada pela arte com as palavras. Me fez refletir sobre os problemas.