Um antigo chefe uma vez compartilhou a estratégia que ele usava para ensinar seu filho (na época, uma criança de 5 anos) a lidar com birras e frustrações. Ele dizia: "Existem problemas grandes e problemas pequenos. A gente pode chorar quando os problemas forem grandes; mas quando eles forem pequenos… a gente só respira fundo e deixa pra lá.”
Apesar de eu duvidar da eficácia deste método para educação infantil, posso dizer por experiência própria que ele tem seu valor quando aplicado para acalmar uma mente adulta ansiosa. Eu constatei isso quando fiz um paralelo com uma das frases que minha psicóloga repete com frequência nas nossas sessões:
“Giuliana, se você não falar / fizer essa tal coisa que está te afligindo e deixando ansiosa - o que vai acontecer? Vai ter alguma consequência séria? Ou é algo que não vale a pena todo esse desgaste emocional?”
Em outras palavras: isso que está me deixando nervosa; é um problema pequeno ou um problema grande? Por que, se o problema for pequeno, é melhor apenas respirar fundo e deixar pra lá.
Mas, apesar de eu conseguir identificar quais situações são apenas problemas pequenos, e portanto não merecedores de muita atenção ou preocupação, existe uma voz interior que de vez em quando resolve gritar “ATTENZIONE PROBLEMA GRANDE!” no meu cérebro como se fosse uma sirene de polícia, e ela só para quando todo o autocontrole que havia dentro de mim desaparece.
E então as estratégias psicológicas anti-ansiedade que estavam delicadamente equilibradas na minha mente se desmoronam tão rápido quanto um meme passando pela timeline.
Comentei com meu marido que estava me sentindo refém de meus pensamentos intrusivos e ele me recomendou uma dica valiosa que escutou nesse podcast:
“Se você se sente repreendido ou criticado pela sua voz interna, dê um nome a ela. Dessa forma, quando esses pensamentos negativos entram na sua mente, não é você mesmo que os está conjurando, e sim uma terceira pessoa, e assim você tem perspectiva e distanciamento para ignorá-la ou descredibilizá-la.”
Pois bem, segui a dica e tratei de dar nome à voz que mora dentro da minha cabeça: Catarina. Desde então, posso dizer que tem sido mais fácil lidar com crises de ansiedade porque eu ajo como se fosse uma plateia assistindo a uma peça de teatro: me imagino com um balde de pipoca no colo e apenas debocho da atuação que está se desenrolando no palco: “ih, olha lá a Catarina surtando de novo por problema pequeno. Que dramática. Ela não sabe que a gente só chora por problema grande? Exagerada demais essa atriz.”
Ainda pensando sobre autojulgamento, é muito nítido o quanto somos mais leves e gentis com as outras pessoas do que com nós mesmos.
Essa semana uma amiga estava se sentindo culpada por não conseguir se dedicar mais a uma determinada questão e eu, me fazendo de plena & esclarecida, joguei o conselho: “saiba que você está fazendo o melhor que pode. E que mesmo o seu melhor, ainda não será 100% perfeito pois não somos máquinas. E o melhor que podemos oferecer tem que ser suficiente, tanto pra nós mesmos como para os outros.”
AAIIINNNN olha lá a Giuliana com a terapia em dia, dando show de inteligência emocional e equilíbrio. Que orgulho. Nem parece que é a mesma Giuliana que há dias atrás estava se cobrando 10000% num projeto do trabalho, achando que não era o suficiente, e ainda por cima se martirizando por pequenos detalhes que poderia ter feito de maneira diferente… calma, ou seria essa a Catarina?
ATTENZIONE CONFUSIONE!
Mas o que é isso? Encontrei um tesouro assim do nada no Substack?
MEU DEUS QUE GÊNIA VOCÊ, que delícia de ler sua escrita! Chorei e ri lendo apenas esse texto, ansiosa para maratonar os demais. Obrigada obrigada obrigada!
ai, adorei isso de dar nome a voz interna! vou adotar ;)